quinta-feira, 1 de maio de 2008

Iniciativas antipreconceito ganham corpo no futebol europeu

Permanecendo entre as quatro linhas do campo de futebol, é notório que um assunto pouco explorado entre os media é o preconceito contra a opção sexual dos jogadores. Muito se fala e se age quando o assunto é preconceito racial no esporte - o que é louvável, claro -, mas quando se compara à homofobia nos campos, pouco se fala sobre ações para sua erradicação. No fim de abril, uma entidade austríaca - o Centro para a História e a Cultura de Gays e Lésbicas - se posicionou contra a homofobia no futebol. A próxima edição da Eurocopa, principal competição entre seleções do continente europeu, será realizada por Áustria e Suíça, em junho deste ano. A idéia da entidade, é conseguir chamar a atenção através de cartazes anti-homofobia, espalhados por locais públicos. A UEFA, organização responsável pela gerência do futebol europeu ainda não tem nenhuma política específica, apesar de discutir o assunto em algumas ocasiões, mas "em sessões dedicadas a outras formas de discriminação".

Jogador francês participa de campanhas antipreconceito

A iniciativa de se posicionar contra as formas de preconceito têm partido de jogadores. O francês Vikash Dhorasoo, vice-campeão do mundo em 2006, com a seleção francesa, apóia campanhas contra preconceito racial e sexual. Dhorasoo, que é heterossexual, declarou seu apoio ao Paris Foot Gay - clube de futebol profissional fundado na França, em 2003 - em fevereiro de 2006, antes de ter jogado a Copa de disputada em junho daquele ano. Dhorasoo, que é de origem mauritana, deu uma longa entrevista para a UEFA Magazine, publicação da entidade máxima do futebol europeu. Além da sua iniciativa de "mudar mentalidades", ele também comenta sobre o preconceito que sofre por ser de origem árabe. A entrevista você pode ler aqui. Dhorasoo, que, apesar de ter alinhado numa seleção francesa de alto nível, nunca foi brilhante dentro dos gramados, fora de campo, demonstra ser um agente político de grande respaldo.

Segundo tempo

Seguindo a linha de pensamento do juiz Junqueira Filho, no post anterior, Luciano Moggi, ex-diretor da Juventus - clube italiano com mais títulos nacionais -, declarou, há duas semanas que "No futebol não existem homossexuais”. Moggi já havia se envolvido no calciocaos - escândalo de suborno a árbitros -, que puniu a Juventus com a queda para a Serie B, segunda divisão da Itália. Vladimir Luxuria, transexual e ex-deputada italiana, respondeu a Moggi que há homossexuais no futebol, "mas os jogadores gays não encontram o clima ideal para poder se assumir".

A declaração de Luxuria tem respaldo a partir da óbvia heteronormatividade do meio futebolístico e do caso de Justin Fashanu, primeiro e único jogador a assumir ser homossexual, em 1990. Também foi pioneiro em outro aspecto: foi o primeiro jogador negro a ser negociado com outro clube por mais de 1 milhão de libras esterlinas, em 1981. Fashanu teve diversos problemas com técnicos e jogadores por causa de sua sexualidade, antes mesmo de assumir publicamente sua sexualidade. Até mesmo seu irmão, o também jogador John Fashanu, deu declarações desrespeitosas quanto à sua sexualidade. Em 1998, Fashanu foi acusado de pedofilia, mas nada foi provado. Ainda assim, por considerar que os outros o consideravam mesmo culpado, se suicidou.

Fashanu é, até hoje, o único futebolista assumidamente gay

Jason Hall, jogador do Brighton Bandits, que participa da GFSN - a liga de futebol homossexual da Inglaterra -, realizará, no dia 17 de maio, o Dia Internacional Contra a Homofobia, uma exposição sobre Fashanu.

Ah, Itália!
Sobre o "caso Ronaldo", uma das poucas coberturas louváveis foi feita pelo site Trivela. Na versão online da revista, a postagem - intitulada de maneira auto-explicativa - Tudo o que você lerá na Trivela sobre o incidente com Ronaldo, define como deveria ser feita a cobertura pelos outros veículos: de maneira bem clara e isenta. O caso também repercutiu na Itália, onde o jogador mora e trabalha, atuando pelo Milan desde janeiro do ano passado. O jornal romano Corriere della Sera, um dos mais lidos no país, publicou o caso sob a manchete Ronaldo ricattato da tre viados. O termo chulo utilizado pelo jornal não existe em italiano, só para constar.

No Campo da Política

Luxuria já entrou em atrito com a direita italiana

Luxuria já sofreu preconceito no parlamento italiano, quando cumpria seu mandato. Luxuria, que vive e se sente como mulher, foi expulsa do banheiro feminino por Elisabetta Gardini, da Força Itália, partido de direita. Alessandra Mussolini, neta do ex-ditador Benedito Mussolini e também deputada, ligada a partidos neonazistas, em discussão com Luxuria, declarou que "valia mais ser fascista que gay". O Parlamento italiano, bipartidário, é palco de fervorosas discussões, assim como a política do país, hipersegmentada entre direita e esquerda. Um dos casos mais marcantes de fervor parlamentar nos últimos anos foi a eleição da estrela pornô Cicciolina, em 1987.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

"Futebol é jogo viril, varonil, não homossexual"

O título para a postagem, acreditem ou não, é parte do texto escrito pelo juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, na sentença - recheada com homofobia - que determinou o arquivamento do processo movido pelo jogador Richarlysson, do São Paulo, contra José Cirillo Júnior, diretor do Palmeiras. Richarlysson alegou que Cirillo utilizou seu nome de forma indevida, ao insinuar sua homossexualidade, numa mesa redonda transmitida pela TV. O caso está mais detalhado aqui.

Hoje a discussão que une sexualidade e futebol voltou à tona: conforme noticiado pelo G1, o jogador Ronaldo saiu com travestis para um motel, no Rio de Janeiro. Andréia Albertine, uma das travestis envolvidas no caso, gravou um vídeo e pôs no Youtube. Ronaldo teria alegado que queria "apenas se divertir com garotas" e que desistiu de fazer o programa quando descobriu que não eram garotas, mas travestis.

Estas situações podem ser usadas para discutir a condição heteronormativa a que são expostos os diversos atores sociais e os jogadores de futebol, acima de tudo. Já são cerca de 320 respostas ao vídeo de Ronaldo, postado há apenas sete horas. Em sua esmagadora maioria, respostas preconceituosas e baseadas no senso comum heteronormativo.


Jornais brasileiros não poupam o meia do São Paulo de fotos esdrúxulas

Obviamente, não é a primeira vez que um jogador de futebol é ofendido por não estar num padrão considerado 'socialmente aceitável' para um esportista. Acontece que, para parte da sociedade, a imagem do esportista é ligada à saúde, e, de maneira eugênica, a homossexualidade é considerada doença, incompatível para um esportista. Para essa parte da sociedade, um atleta homossexual assumido nunca seria um atleta completo. Sempre carregaria o estigma do mas. "É bom jogador, mas é gay". Uma boa discussão sobre o tal mas se encontra aqui.

Sexualizar o debate não é uma saída. O Bola Rosa, por exemplo, faz isso. Elucidar regras do futebol apenas para mulheres sexualiza o debate. Claro que futebol também é para mulheres, mas será que apenas elas não conhecem as regras?

domingo, 27 de abril de 2008

Sexta-feira queer

O Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade, o CUS, se reúne todas as sextas, na Facom. Coordenado por Leandro Colling - doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Facom, e professor adjunto da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia -, o grupo, que será registrado no CULT - Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura - tem como objetivo estudar as identidades sexuais, através da Teoria Queer.

"A Teoria Queer é uma espécie de guarda-chuva geral, onde se encontram diferentes concepções, mas com um único objetivo: estudar os processos sociais que sexualizam a sociedade. Positivando o queer - que em inglês quer dizer estranho -, ela propõe discutir a diversidade sexual, ampliando a noção de gênero e combatendo a noção de heteronormatividade", explica Colling, que também é blogueiro e já escreveu artigos sobre o assunto, apesar de ter trabalhado com política durante sua trajetória acadêmica e profissional. Colling também mediou uma mesa sobre Caio Fernando Abreu, na Mostra Possíveis Sexuaidades.

O grupo é o único da Bahia que pesquisa a sexualidade a partir da Teoria Queer. Colling também pesquisa sobre a representação da homossexualidade nas telenovelas da Rede Globo e no teatro baiano, tema que poderá ser abordado pelo grupo, segundo ele.