quinta-feira, 1 de maio de 2008

Segundo tempo

Seguindo a linha de pensamento do juiz Junqueira Filho, no post anterior, Luciano Moggi, ex-diretor da Juventus - clube italiano com mais títulos nacionais -, declarou, há duas semanas que "No futebol não existem homossexuais”. Moggi já havia se envolvido no calciocaos - escândalo de suborno a árbitros -, que puniu a Juventus com a queda para a Serie B, segunda divisão da Itália. Vladimir Luxuria, transexual e ex-deputada italiana, respondeu a Moggi que há homossexuais no futebol, "mas os jogadores gays não encontram o clima ideal para poder se assumir".

A declaração de Luxuria tem respaldo a partir da óbvia heteronormatividade do meio futebolístico e do caso de Justin Fashanu, primeiro e único jogador a assumir ser homossexual, em 1990. Também foi pioneiro em outro aspecto: foi o primeiro jogador negro a ser negociado com outro clube por mais de 1 milhão de libras esterlinas, em 1981. Fashanu teve diversos problemas com técnicos e jogadores por causa de sua sexualidade, antes mesmo de assumir publicamente sua sexualidade. Até mesmo seu irmão, o também jogador John Fashanu, deu declarações desrespeitosas quanto à sua sexualidade. Em 1998, Fashanu foi acusado de pedofilia, mas nada foi provado. Ainda assim, por considerar que os outros o consideravam mesmo culpado, se suicidou.

Fashanu é, até hoje, o único futebolista assumidamente gay

Jason Hall, jogador do Brighton Bandits, que participa da GFSN - a liga de futebol homossexual da Inglaterra -, realizará, no dia 17 de maio, o Dia Internacional Contra a Homofobia, uma exposição sobre Fashanu.

Ah, Itália!
Sobre o "caso Ronaldo", uma das poucas coberturas louváveis foi feita pelo site Trivela. Na versão online da revista, a postagem - intitulada de maneira auto-explicativa - Tudo o que você lerá na Trivela sobre o incidente com Ronaldo, define como deveria ser feita a cobertura pelos outros veículos: de maneira bem clara e isenta. O caso também repercutiu na Itália, onde o jogador mora e trabalha, atuando pelo Milan desde janeiro do ano passado. O jornal romano Corriere della Sera, um dos mais lidos no país, publicou o caso sob a manchete Ronaldo ricattato da tre viados. O termo chulo utilizado pelo jornal não existe em italiano, só para constar.

No Campo da Política

Luxuria já entrou em atrito com a direita italiana

Luxuria já sofreu preconceito no parlamento italiano, quando cumpria seu mandato. Luxuria, que vive e se sente como mulher, foi expulsa do banheiro feminino por Elisabetta Gardini, da Força Itália, partido de direita. Alessandra Mussolini, neta do ex-ditador Benedito Mussolini e também deputada, ligada a partidos neonazistas, em discussão com Luxuria, declarou que "valia mais ser fascista que gay". O Parlamento italiano, bipartidário, é palco de fervorosas discussões, assim como a política do país, hipersegmentada entre direita e esquerda. Um dos casos mais marcantes de fervor parlamentar nos últimos anos foi a eleição da estrela pornô Cicciolina, em 1987.

Um comentário:

Braitner Moreira disse...

Só do fato de ser Moggi já dá pra ter uma noção do que esperar. Saiu na Kicker, dia desses, uma reportagem que diz que um em cada onze jogadores profissionais é homossexual. O que bate com a declaração que Dadá Maravilha deu, no fim da década de 80, dizendo que em todo time em que ele havia jogado tinha um gay. E na época teve gente que disse que seria ele, então.

Nível ótimo do blog, cara. Abraço!