Seguindo a linha de pensamento do juiz Junqueira Filho, no post anterior, Luciano Moggi, ex-diretor da Juventus - clube italiano com mais títulos nacionais -, declarou, há duas semanas que "No futebol não existem homossexuais”. Moggi já havia se envolvido no calciocaos - escândalo de suborno a árbitros -, que puniu a Juventus com a queda para a Serie B, segunda divisão da Itália. Vladimir Luxuria, transexual e ex-deputada italiana, respondeu a Moggi que há homossexuais no futebol, "mas os jogadores gays não encontram o clima ideal para poder se assumir".
A declaração de Luxuria tem respaldo a partir da óbvia heteronormatividade do meio futebolístico e do caso de Justin Fashanu, primeiro e único jogador a assumir ser homossexual, em 1990. Também foi pioneiro em outro aspecto: foi o primeiro jogador negro a ser negociado com outro clube por mais de 1 milhão de libras esterlinas, em 1981. Fashanu teve diversos problemas com técnicos e jogadores por causa de sua sexualidade, antes mesmo de assumir publicamente sua sexualidade. Até mesmo seu irmão, o também jogador John Fashanu, deu declarações desrespeitosas quanto à sua sexualidade. Em 1998, Fashanu foi acusado de pedofilia, mas nada foi provado. Ainda assim, por considerar que os outros o consideravam mesmo culpado, se suicidou.
Fashanu é, até hoje, o único futebolista assumidamente gay
Jason Hall, jogador do Brighton Bandits, que participa da GFSN - a liga de futebol homossexual da Inglaterra -, realizará, no dia 17 de maio, o Dia Internacional Contra a Homofobia, uma exposição sobre Fashanu.
Ah, Itália!
Sobre o "caso Ronaldo", uma das poucas coberturas louváveis foi feita pelo site Trivela. Na versão online da revista, a postagem - intitulada de maneira auto-explicativa - Tudo o que você lerá na Trivela sobre o incidente com Ronaldo, define como deveria ser feita a cobertura pelos outros veículos: de maneira bem clara e isenta. O caso também repercutiu na Itália, onde o jogador mora e trabalha, atuando pelo Milan desde janeiro do ano passado. O jornal romano Corriere della Sera, um dos mais lidos no país, publicou o caso sob a manchete Ronaldo ricattato da tre viados. O termo chulo utilizado pelo jornal não existe em italiano, só para constar.
No Campo da Política
Luxuria já sofreu preconceito no parlamento italiano, quando cumpria seu mandato. Luxuria, que vive e se sente como mulher, foi expulsa do banheiro feminino por Elisabetta Gardini, da Força Itália, partido de direita. Alessandra Mussolini, neta do ex-ditador Benedito Mussolini e também deputada, ligada a partidos neonazistas, em discussão com Luxuria, declarou que "valia mais ser fascista que gay". O Parlamento italiano, bipartidário, é palco de fervorosas discussões, assim como a política do país, hipersegmentada entre direita e esquerda. Um dos casos mais marcantes de fervor parlamentar nos últimos anos foi a eleição da estrela pornô Cicciolina, em 1987.
Um comentário:
Só do fato de ser Moggi já dá pra ter uma noção do que esperar. Saiu na Kicker, dia desses, uma reportagem que diz que um em cada onze jogadores profissionais é homossexual. O que bate com a declaração que Dadá Maravilha deu, no fim da década de 80, dizendo que em todo time em que ele havia jogado tinha um gay. E na época teve gente que disse que seria ele, então.
Nível ótimo do blog, cara. Abraço!
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